"Sou uma mulher madura que as vezes anda de balanço , sou uma criança insegura que às vezes usa salto alto. Sou uma mulher que balança, sou uma criança que atura."

Martha Medeiros

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sábado, 7 de janeiro de 2017

Em cada pétala...

Em cada pétala
um grito

Em cada espinho
um punho

Em cada botão
uma Rosa

Em cada jardim
uma história

Em cada luta
uma primavera.

Carpe


quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Divisão do Trabalho

Partido
Em engrenagens
Se rompe

Parte – a – parte.

Mostradores fixos,
não se olham.

Coração
dá corda no tempo.

Ponteiros
braços em um só movimento.

Do relógio em construção
fez-se corpo destruído.

Cérebro máquina marca tempo.

Stop! Grita a sirene.
A fábrica não para,

Chega a hora da próxima jornada.

Carpe

segunda-feira, 17 de março de 2014

A FOLHA E A BRISA


Desfolhear
Folha a folha
Roçar de pétalas
sopro suave
baile entre galhos.

A brisa regozija-se
com o gozo esverdeado.

Aos pés da árvore
a poeta extasia-se
com o orgasmo natural.


Carpe

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Ciclo da vida

José
saltou do edifício.
Madalena
caiu da Golden Gate.
Nicolas
tomou muitos remédios.
Verônica
cortou os pulsos.
Luiza nasceu.


E a vida prossegue.

Carpe

terça-feira, 2 de abril de 2013

Assassinato no Morro
















No gritar de uma criança

O mundo pelo avesso
Um Menino assassinado,
Na favela entre os becos,
Se queria ser médico
Ou Jogador,
Ninguém sabe.

Na melanina da pele
O pecado
De ser menino pobre e negro.

A farda que se omitia
Levou a matéria sem vida.

Mais um menino de favela
Sem corpo
e sem vela.

Carpe

terça-feira, 19 de março de 2013

Daquela Infância

Cresci na mistura
de asfalto
E terra
De carroça
E carro
De prédio
E casa de barro

No desmoronamento
Daquela infância:
Riacho na casa da tia
Bolo de aipim
Fast food na esquina
Enchente na rua debaixo.

Significados insignificantes
Invida que
Diariamente
Passou.

Acimentaram os sonhos
Demoliram as vidas
Atropelaram o inocente
A vida pulou no rio Tietê
E se perdeu na in-verdade.

Carpe

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Pluriomem



Ao testarudo























I
Segue pedalando
Pedalante
Pensante
Pluriomem
Pluriexistencial
Pedala para o infinito
Para o alto da Bocaina
Engole a boca seu corpo
Corpo sacia a mata
Engole a terra
Fibra de osso e sangue
Consome matéria
Matéria material.
II
Menino teimoso
Pertuba
Desanda
Desmanda
E manda
Morre de medo
tem medo
Pedala
Foge do medo
Encontra o assombro
Desgrita
Agita
Cogita
dorme.
III
O homem é submundo
E mundano
Desatina a desviver
Sem vida
Morte mordida
Sem desejo
Sem desfecho
Com sentido
Desvenda-se
No desmedido
momento
De seguir
E continua...

Carpe

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O Fogo


A souzalopes

Imagem de Marciano Lírio de Souza Lopes



















Fogo
                Fere
                               Foge
                                               Filho
                                                               Fede
                                                                              Fala
                                                                                              Fica
                                                                                                              Fogo
                                                                                                              Fica
                                                                                              corpo
                                                                              cinza
                                                               morto
                                               fode a
                               terra
                come o
corpo.


Carpe

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sou filha

Sou filha de um momento
Em que viver não é necessário,
E morrer não é o bastante.

Sou filha de uma mãe pouco gentil,
De uma pátria nem tão idolatrada,
E de um filho que foge a luta.

Sou filha de um grito,
De uma chibata,
De um tronco.

Sou filha de uma mãe sem ventre,
De um pai sem sêmen,
De um parto sem luz.

Carpe

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Marias

Maria do Socorro
Gostava de cantoria,
Cantiga ou modinha,
Mas canto não enche barriga.
E ainda tem louça na pia.

Maria das dores
Fazia da dança sua alegria,
Samba, forró e quadrilha,
Mas moça de família não dança.
Casa na Igreja com a graça da Santa.

Maria José
Gostava de leitura,
História, romance e aventura,
Mas letra não traz futuro.
E o quintal ainda ta sujo.

Daniele Maria
Apreciava a boa poesia,
Viajou pra Bahia, queria ir pro Ceará,
Mas agora tem que
Lavar
Casar
Limpar
Trabalhar

Todas as Marias que queriam ser e não foram.

Carpe

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Liberdade

Por quê enclausurar tão bela ave?
Tirar-lhe da imensidão do mundo,
Para trancafiá-la em uma cela,
Da liberdade não provastes nem o favo,
Pobre criatura...



Vivestes tão pouco e já foste aprisionado,
Choro por ti, oh canto da natureza,
Não sentirá mais o êxtase do vôo,
O vento perpassar entre suas asas,
A vida que de ti foi tirada.

Privaram-te da felicidade,
Impuseram-lhe grades.
Aos poucos emudece,
Não podes mais cantar,
A pobre padece...
Logo a morte a consolará,
De que vale viver, se não pode mais voar?

Carpe

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Minha Menina

Ouço o choro de minha menina,
Presa ao ventre fatigado,
Que já não gera fruto
Que já não recebe a semente,
Mas cá esta ela...
Talvez em sonho,
Na ilusão de um sono profundo,
Cá esta ela...

Tão doce que quase existe,
E por vezes sinto-a aqui,
Dentro do ventre seco,
Sinto-a no seio murcho,
No corpo sofrido,
Na vida perdida.

Quiçá ela esteja todos esses anos,
Junto de minha infância.
Nessa longa calçada chamada vida
Que tanto me cansa caminhar.


Carpe

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Gabriel e João




Gabriel vai á escola.
Joga futebol,
Brinca com a molecada,
E vai dormir em seu quarto.








João cheira cola,
Pedi dinheiro no farol,
Foge da milícia armada,
E dorme na calçada.



Carpe

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Menino De Rua

Corre-corre pra vender doce,
Esconde-esconde da polícia,
Pula-pula muro de favela,
Roda-roda a avenida,
Come-come fumaça de carro,
Dorme-dorme na calçada.


Carpe



sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Vida da mulher




A mulher desce a avenida
Em cima do salto alto
Sob o vestido justo,
Os glúteos balançam,
Os seios suam no decote.






Buzinas, cantadas...
E a noite segue
E os veículos param
(são clientes)
Valor aceito,
Que as crianças têm fome,
Lá vai a mulher...








Despida, petrificada,
Arreganhada na cama
Aguarda o fim do programa.









Carpe

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pânico




Nada sacia essa ânsia de viver,
Beber da fonte da vida,
Envenenar-se com o liquido da vida,
Asfixiar-se com tanto viver.

O grito não cala,
O coração não consente,
Os lábios estremecem.
O corpo recente
Não vive.
Depois da vida
O melhor é fenecer.

O sonho já não completa a fantasia,
O caminho não mostra o lugar,
O sono persiste,
Mas o corpo não quer descansar,
Os ouvidos ensurdecem
O silêncio não quer passar.

Um grito no escuro,
Silêncio na escadaria,
O andar quer correr,
O coração quer crescer,
O corpo quer explodir.

O sofrer faz-se sofrimento.
A razão esqueceu-se de raciocinar.
E o desejo afogou-se,
Pois foi brincar no mar.

Uma euforia febril,
Apodera-se deste ser
Que treme diante do espelho.

O tempo esqueceu-se que é tempo
E parou de contar.

Estás num vazio,
Sem ser, sem vida
Porém, tens que viver.

Carpe

Fim de Tarde


Da janela,
A menina observa...
As gotas de chuva se quebram no solo,
Que umedece.
As folhas balançam no ritmo do vento,
Os sabiás saracoteiam suas asas.
No centro do jardim,
Um cachorrinho se diverte.
Encantada, ela admira todo o movimento,
Mas logo se entristece...
Não pode sair para brincar,
Tem que estudar...

Carpe