“Nada causa mais horror a
ordem que mulheres que lutam e que sonham”
José Martí
Essa semana chegou a público o
estupro e morte de Lucía, ocorrido no último dia 15. Não foi
apenas um assassinato, foi um caso de feminícidio. Uma mulher morreu
porque ela era mulher. O que leva alguém a cometer um ato tão
brutal contra outra que deveria ser sua semelhante? Lucía não é
semelhante. Lucía passou anos de sua vida sendo subjugada, sendo
tratada como objeto. Lucía deve ter escutado muito que devia “agir
como moça”. Ser “mais mulher”. Que deveria ser mais feminina.
Muitas vezes Lucía deve ter sido orientada a não sair de casa a
noite. A não falar com estranhos, principalmente se esses forem
homens. Quantas cantadas não deve ter escutado na rua. Quantos
assédios não deve ter sofrido em seus escassos 16 anos. Anos que
foram tomados. Violentados. Brutalmente arrancados.
O que levou à morte de Lucía
não foi apenas um homem, mas toda lógica machista que predomina em
nossa sociedade e nos mostra enquanto objetos, enquanto coisas a
serem consumidas junto ao mercado. Somo sandálias, calças,
langeries, bijouterias, corpo, pernas, braços, olhos, seios,
sexo... Nos mostram em partes, nunca um todo, com sentimentos,
sonhos, garra, luta, e com um sangue que ferve cada vez que nos
deparamos com mais um ato de violência contra qualquer uma de nós...
Lucía é argentina, mas poderia
ser brasileira, chilena, peruana, cubana, nicaraguense... Temos algo
em comum, somos filhas da mesma colonização, fomos invadidos, nossa
terra nos foi tomada, somos filhas da mesma América Latina violada,
maltratada, estuprada... As fronteiras nos impedem de nos abraçar,
mas não impossibilitam que os jugos do patriarcado circulem, o
machismo possui livre circulação em todas as nações filhas do
capitalismo. Nossos corações se unem em um mesmo sofrimento. Em
muitos países mulheres estão paralisando ruas e espaços contra o
feminicídio e gritam pelo fim do machismo.
Tornaremos nossos grilhões
correntes de resistência, em cada argola uma dor, um sonho, uma
guerra, a luta não se acaba em uma, mas se estende por toda uma
América... Por Lucía e por todas, gritemos: “Ni una a menos!”
Carpe
Nenhum comentário:
Postar um comentário